Se a pandemia de Covid-19 afastou as crianças da escola, dos professores e dos colegas, por outro lado ela conseguiu tornar pais participativos, além de trazer responsáveis e familiares para perto da educação. É o que diz uma pesquisa recente realizada pelo Datafolha. De acordo com o levantamento, 51% dos entrevistados afirmam estar participando mais da vida escolar dos estudantes depois que as aulas remotas se tornaram unanimidade no país.
Se queremos que o estudante se desenvolva de forma integral, temos que olhar para ele como um todo, não apenas no período em que está na escola.
Estudos mundiais comprovam que trazer a família para dentro da escola é uma das formas mais eficazes de melhorar o desempenho dos estudantes. O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), por exemplo, avalia jovens de 15 anos em aproximadamente 70 países. Dados demonstram que a média de desempenho dos estudantes cujos pais e responsáveis se interessam pela vida escolar foi quase 57 pontos mais alta que a dos demais.
Além disso, os benefícios de integrar família e escola são significativos para o desenvolvimento da educação em todos os níveis de ensino. Para Renata Trefiglio Mendes Gomes, psicopedagoga e doutoranda da Universidade de Nebraska-Lincoln, a maioria dos estudantes passa 11,2 mil horas em sala de aula entre o nascimento e os 17 anos. “Parece muito tempo, mas o tempo que eles passam fora do ambiente escolar é ainda maior. Então, se queremos que o estudante se desenvolva de forma integral, temos que olhar para ele como um todo, não apenas no período em que está na escola”, defende. Ela explica que essa aproximação proporciona um desenvolvimento integral do estudante. Afinal, há muitas oportunidades fora do ambiente escolar para que ele se desenvolva para a vida.
Pais participativos: um direito constitucional
Mais que cultural, a participação dos familiares no cotidiano da escola é um direito constitucional, como lembra o supervisor pedagógico regional do Sistema de Ensino Aprende Brasil, Rodrigo Otavio Xavier Leão. “O artigo 205 da Constituição diz que a Educação é direito de todos e dever do Estado e da família. Responsáveis e pais participativos não são apenas um direito do estudante, como um dever, de modo que seja uma contribuição positiva e propositiva”, destaca.
Há pesquisas que mostram que os professores mudam de escola com menos frequência e recebem notas de desempenho maiores quando as famílias trabalham junto.
Como se não bastasse, a integração entre família e escola ajuda a desenvolver habilidades socioemocionais e a reduzir problemas de comportamento. Até mesmo os professores se tornam mais proficientes nas atividades pedagógicas, lembra Renata. “Há pesquisas que mostram que os professores mudam de escola com menos frequência e recebem notas de desempenho maiores quando as famílias trabalham junto. Esta última, por outro lado, tem mais compreensão do que está acontecendo na escola. Dessa maneira, entende melhor o conteúdo e desenvolve um relacionamento mais sólido com a equipe escolar”, afirma. No final, todos ganham com esse relacionamento.
Do ponto de vista das famílias, também é importante que o estudante perceba que os responsáveis por ele se interessam pelo que acontece na escola. “É preciso deixar esse interesse claro para a criança. Como isso? Perguntando a ela com frequência sobre seus professores, os funcionários da escola, como foi o dia de estudo, as brincadeiras, convívio com os colegas, etc. Outra maneira de fazer isso é acompanhar o material dessa criança, ensiná-la a cuidar desse material e do uniforme. Assim ela pode compreender a importância que sua rotina escolar tem para a família”, observa.