Cientista ambiental acredita que jovens de hoje podem frear mudanças climáticas

Por Marina Klein Telles

A Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) realizou na quarta-feira (19), a aula inaugural com a participação do cientista ambiental Carlos Nobre, referência em meteorologia, climatologia, modelagem, mudanças climáticas, desastres naturais e ciência do sistema terrestre. Na fala, ele trouxe para discussão o tema Mudanças Climáticas: Desafios para Todos, assunto de relevância mundial que tem sido pauta de diversos encontros entre lideranças governamentais nos últimos anos.

O debate foi mediado pelo professor da Unisc e doutor em ciência política, João Pedro Schmidt. Foi transmitido para os alunos de todos os campi e comunidade em geral. Nobre começou a fala citando que antigamente o homem era uma força biológica e agora uma força geológica global chamada de antropoceno, pois está mudando o sistema ambiental do planeta terra, principalmente o clima. “As precipitações aumentaram muito em alguns lugares e diminuíram em outros, há perda de massa de gelo, aumento na temperatura de 1,15 Cº, aumento em 20 centímetros do nível do mar, os oceanos estão absorvendo muito calor”, comentou.

Ele cita como exemplo das mudanças, pessoas que nasceram nos anos 1960 com bebês que nasceram em 2020. “As pessoas que nasceram em 1960 vão experimentar quatro ondas de calor. Já os bebês, 20 se a temperatura se manter como está e 30 para mais se aumentar. Vamos passar por inundações, falência de safras agrícolas, entre outras coisas. O Brasil, há 10 anos atrás, estava reduzindo as emissões pela diminuição no desmatamento ilegal na Amazônia. Precisamos retomar esse protagonismo”, enfatizou o cientista.

Para isso, Nobre acredita que o Brasil pode conseguir ser o primeiro país de grandes emissões a atingir zero emissões líquidas de carbono. “Se zerarmos o desmatamento ilegal já diminui em 50% as emissões, mais o investimento em agricultura regenerativa, que pode gerar bons resultados em 5 anos, e vencer os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis da Organização das Nações Unidas (ONU). É preciso tornar-se ainda mais ambicioso, acelerar políticas e práticas de adaptação e aumento da resiliência em todos os setores e manter o apoio à geração de conhecimento científico”, pontuou.

Mas para que essas ações sejam possíveis, Nobre ressalta a importância da geração que está nas universidades. “A minha geração aperfeiçoou a ciência e apontou o risco para as próximas gerações. Vocês, alunos da graduação, coloquem isso como um grande desafio e façam o que a minha geração não conseguiu”, reforçou.

A aula magna teve ainda a presença da vice-reitora da Unisc, Andreia Rosane de Moura Valim; do pró-reitor Acadêmico, Rolf Fredi Molz; da diretora de Ensino, Giana Diesel Sebastiany; e do diretor de Formação Continuada e Tecnologia Educacional, Rudimar Serpa de Abreu.

O vídeo completo da palestra pode ser conferido no YouTube EAD Unisc.

Especialista de renome internacional

Com décadas de pesquisas e estudos na área ambiental, Nobre formulou, há 27 anos, a hipótese da “Savanização” da Amazônia, em resposta ao impacto do aquecimento global nas florestas tropicais. Ao longo da carreira, já orientou 29 alunos de mestrado e doutorado e contribuiu com diversos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), sendo um dos autores do Quarto Relatório de Avaliação do IPCC, agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 2007.

Atualmente, é membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Academia Mundial de Ciências (TWAS) e membro estrangeiro da National Academy of Science (NAS). No Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), ele ministra disciplinas como Interação Biosfera-Atmosfera e Introdução à Ciência do Sistema Terrestre.

Foto: Divulgação | Fonte: Assessoria
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