O Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo é celebrado anualmente em 2 de abril e tem como objetivo difundir informações à população sobre a condição, com vistas à redução da discriminação.
Conforme o Ministério da Saúde, os Transtornos do Espectro Autista (TEAs) surgem na infância e tendem a persistir na adolescência e na vida adulta. Na maioria dos casos, eles se manifestam nos primeiros cinco anos de vida e as pessoas afetadas pela condição podem ter condições comórbidas, como epilepsia, depressão e ansiedade. Já o nível intelectual varia muito de um caso para outro, alternando de comprometimento profundo a casos com altas habilidades cognitivas.
Dr. Gilberto Ferlin, otorrinolaringologista e foniatra no Hospital Paulista, destaca que os TEAs têm como um de seus critérios diagnósticos a falha na comunicação social e explica que, embora inicialmente os sintomas apresentados possam ser parecidos, não há relação direta do transtorno com a deficiência auditiva.
“O deficiente auditivo, dependendo do grau da perda auditiva e do ambiente onde se encontra, embora não apresente falha na comunicação social, como o TEA, pode, por não ouvir, não responder a chamados e não conseguir se comunicar efetivamente. Por isso, é fundamental, antes de fechar o diagnóstico de autismo, ter um diagnóstico audiológico consistente, principalmente em crianças. Quanto menor a criança, mais importante é o diagnóstico audiológico antes de se pensar em TEA”, reitera.
O especialista pontua que, muitas vezes, os primeiros sintomas notados pelos cuidadores – não necessariamente os que primeiro aparecem -, tanto no autista como no deficiente auditivo, são muito semelhantes, como por exemplo: não responder às conversas, nem mesmo ao chamado do nome e o atraso na fala. Ambas as características devem estar presentes por volta do primeiro ano de vida e sua ausência constitui sinal de alerta para possíveis alterações no desenvolvimento infantil.
Nesse contexto, ressalta o otorrino, é fundamental que o diagnóstico audiológico seja consistente e o mais breve possível. “Deficientes auditivos e autistas podem se confundir num primeiro olhar. Evidentemente, existem outros sintomas na comunicação social que os diferencia, como o olhar, por exemplo – embora não seja o único. Autistas podem também, ao contrário, manifestar irritação ou agressividade a determinados tipos de sons em intensidade (volume) não tão elevadas”, ressalta o médico.
A partir do diagnóstico do TEA e suas particularidades encontradas em cada indivíduo, a reabilitação, especificamente das perdas auditivas, pode seguir o padrão dos deficientes auditivos sem deixar de observar a singularidade do paciente. Num primeiro olhar, a perda auditiva pode dificultar o diagnóstico do TEA, por isso, é fundamental que o diagnóstico audiológico do paciente seja consistente e confiável. “Muitas vezes, a partir da avaliação do profissional habituado a trabalhar com desenvolvimento infantil, como o otorrino foniatra, é possível formular diagnóstico diferencial de uma ou outra alteração, pois um diagnóstico não necessariamente exclui o outro. Nesse sentido, a busca do diagnóstico etiológico auxilia, em muito, o trabalho terapêutico”, pondera.
Vale lembrar que o exame de triagem auditiva neonatal, obrigatório em maternidades no Brasil, por se tratar de exame de triagem, não exclui todas as possibilidades de déficit auditivo infantil, visto que existem condições de saúde que evoluem com perda de audição progressiva a partir do nascimento. Por isso, um profissional deve ser consultado tão logo se suspeite que possa existir dificuldade auditiva na criança. “Crianças que não tenham atenção a sons, não se assustam com barulho intensos, não balbuciam (brincam emitindo e explorando os sons da boca) no primeiro ano de vida, principalmente se estimuladas pelos cuidadores, devem ser investigadas”, finaliza Dr. Ferlin.