Especialistas em oncologia intervencionista se reuniram em São Paulo para discutir os avanços da crioablação no tratamento do câncer de mama, em um evento promovido pela KTR Medical, distribuidora oficial da IceCure Medical no Brasil. A reunião apresentou dados clínicos, experiências práticas e perspectivas sobre a expansão da técnica no país, destacando o potencial da crioablação como alternativa minimamente invasiva à cirurgia tradicional em casos selecionados.
O encontro contou com a presença do diretor da Divisão de Radiologia Intervencionista do Instituto Europeu de Oncologia (IEO), na Itália, Dr. Franco Orsi. “A crioablação representa a próxima etapa natural na redução da invasividade no tratamento do câncer de mama. Mantemos os mesmos resultados oncológicos, mas oferecemos um procedimento significativamente mais seguro e menos traumático para a paciente”, afirmou Orsi.
Avanço científico e validação no Brasil
O chefe da disciplina de Mastologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Dr. Afonso Nazário, participou das discussões apresentando dados de estudos clínicos conduzidos no Brasil. Já a professora da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e especialista em imagem da mama, Dra. Vanessa Sanvido, que lidera um estudo de crioablação no HCor com financiamento da FINEP, destacou que “a crioablação pode ser uma alternativa promissora à cirurgia para pacientes com câncer de mama precoce. Para tumores de até 2 cm, é talvez a melhor opção”.
O chefe da Radiologia Intervencionista do Instituto Nacional de Câncer (INCA), Dr. José Hugo Mendes Luz, relatou os avanços nas terapias guiadas por imagem e a experiência do INCA na área. O sócio da Gavearad Radiologia, no Rio de Janeiro, Dr. Leonardo Azevedo, compartilhou aspectos logísticos e operacionais da implementação da técnica em clínicas privadas. Já o especialista em radiologia intervencionista Dr. Luis Ricardo Socolowski reforçou a importância de protocolos técnicos e da capacitação de equipes.
Dados e evidências sobre a técnica
Estudos multicêntricos internacionais, como o ICE3 (International Cryoablation Clinical Trial), indicam que a crioablação alcança taxas de ablação completa superiores a 95% em tumores luminais A de até 2 cm, com índices de recorrência local baixos. No Brasil, instituições como a Unifesp, o Inca, a Rede Américas e o Hospital Copa Star realizam o procedimento em protocolos de pesquisa. Dados nacionais preliminares apontam taxas de ablação entre 94% e 98%, menos de 2% de complicações maiores e retorno das pacientes às atividades em até 48 horas.
A técnica é realizada de forma ambulatorial, com anestesia local e sedação consciente, em procedimentos de 45 a 60 minutos. A alta hospitalar ocorre no mesmo dia e, segundo os especialistas, a dor pós-operatória é mínima, com preservação estética significativa e cicatrizes discretas.
Desescalada terapêutica e critérios de indicação
O conceito de desescalada terapêutica, que busca tratamentos menos agressivos com mesma eficácia oncológica, foi debatido como uma tendência crescente na oncologia. “Começamos com mastectomias radicais, evoluímos para cirurgias conservadoras, e agora chegamos à crioablação. Cada etapa representa nossa busca por tratamentos mais humanos e menos invasivos, sempre mantendo a excelência oncológica”, ressaltou Orsi.
Entre os critérios para indicação da técnica estão tumores invasivos de até 2 cm, subtipo luminal A, margens bem definidas, ausência de componente intraductal extenso e idade mínima de 50 anos, sendo todos os fatores avaliados caso a caso por equipes médicas.
Esse foi um momento estratégico para conectar experiências e fortalecer a discussão científica sobre um recurso que pode transformar o tratamento de muitas mulheres no Brasil”, afirmou o diretor de operações da KTR Medical, Leandro Najfeld.