Em 2021, celebramos os 50 anos do 20 de Novembro, o Dia da Consciência Negra, e a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) organizou uma programação intensa para preservar, difundir e valorizar as histórias, as memórias e as tradições das culturas afro-gaúchas. No âmbito da música de concerto, essa contribuição ainda precisa de muito resgate e valorização. Por isso, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) programou um concerto especial para o dia 20, com quatro solistas negros à frente da orquestra: o pianista Marcos Aragoni e os cantores Saulo Javan (baixo-barítono), Edna D’Oliveira (soprano) e Geilson Santos (tenor). A apresentação tem regência do maestro e diretor artístico da Ospa Evandro Matté, e será também a primeira do ano com a participação do Coro Sinfônico da Ospa.
A orquestra se apresenta todos os sábados, às 17h, na Casa da Ospa, com transmissão ao vivo pelo canal da orquestra no YouTube. O ingresso pode ser trocado por 1kg de alimento não perecível. É obrigatória a apresentação de comprovante de vacinação.
Cantores de grande renome na cena lírica brasileira, Saulo, Edna e Geilson interpretarão músicas da ópera “Porgy and Bess”, de George Gershwin. Além deste trio solista, 48 vozes do Coro Sinfônico voltam a cantar presencialmente depois de quase dois anos. Após 18 meses ensaiando à distância, os cantores retomaram os ensaios presenciais em 5 de outubro, seguindo rígidos protocolos e sob a orientação do regente Manfredo Schmiedt. Os cuidados serão mantidos durante a apresentação, quando os cantores usarão máscaras e ocuparão os balcões da Sala Sinfônica ao invés de dividirem o palco com a orquestra.
Síntese inovadora de técnicas orquestrais, jazz e folclore, a revolucionária ópera “Porgy and Bess” estreou em 1935 em Nova York e obteve sucesso imediato com canções que entraram para o cânone americano como “Summertime”, “A Woman is a Sometime Thing”, “It Ain’t Necessarily So”, “Bess, You Is My Woman Now” e “I Got Plenty o’ Nuttin”. Por insistência de Gershwin, o elenco foi composto apenas de artistas negros. Atualmente, há muito debate em torno da representatividade da obra, que no entanto, foi fundamental para abrir caminho para protagonistas negros nos palcos norte-americanos.
“É uma obra que traz para a ópera elementos do jazz e do blues, que são dois estilos musicais muito fortes originados na cultura negra”, pontua o maestro Evandro Matté.
A Ospa executa a versão para concerto da ópera (sem elementos teatrais). Nela, a soprano Edna D’Oliveira interpreta as três personagens femininas: Clara, cantando “Summertime”, Serena, na canção “My Man’s Gone Now” e Bess, no dueto “Bess, You Is My Woman Now“. Edna é uma das mais importantes sopranos líricos do Brasil e mantém projetos ligados à questão racial. “Na pandemia teve muita discussão sobre racismo, mas ainda pouco se fez para criar oportunidades para cantores negros. Ainda é extremamente significativo, num país onde a diversidade tem sido discutida, cantar ‘Porgy and Bess’ no dia 20 de novembro”, comenta a cantora.
Além disso, duas convidadas especiais, a percussionista, cantora e doutoranda em sociologia Nina Fola e a cantora Loma Pereira, prepararam uma surpresa para o público.