A palestra Perspectivas econômicas em tempos de incerteza: principais desafios do Brasil e do RS reuniu empresários e gestores do Sindimetal RS nesta segunda-feira (12), na sede da entidade, junto ao Centro das Indústrias, em São Leopoldo. O evento contou com a presença do economista-chefe do Sistema Fiergs, Giovani Baggio, que abordou os principais cenários macroeconômicos e desafios nacionais e estaduais para os próximos meses.
Durante a apresentação, Baggio analisou variáveis como taxa de câmbio, inflação e juros, além do impacto das tensões geopolíticas no cenário internacional. Segundo ele, “em 2025, com os reflexos da guerra comercial, o PIB do mundo deve crescer menos em relação ao observado nos últimos anos; a inflação deve ser relativamente menor, mas com riscos de alta”. O economista acrescentou que “o índice de incerteza política está em patamares próximos ao registrado no auge da pandemia e o comercial está muito acima do verificado no primeiro Governo de Trump, nos EUA”.
Tarifas americanas e oportunidades para o Brasil
Baggio destacou os efeitos do chamado “tarifaço de Trump”, com cinco pontos principais. “A guerra comercial nunca é um fator bom: Estados Unidos colocar a tarifa é um problema, mas as retaliações é que transformam o conflito em guerra comercial sem vencedores — o comércio mundial só perde”, afirmou o economista. Baggio acrescentou que o Brasil e a América Latina foram relativamente poupados, pois “as tarifas de Trump miraram especialmente nos países asiáticos”.
O economista recomendou cautela ao país diante da instabilidade. “O Brasil deve agir com pragmatismo. Não somos um ator de grande peso no comércio internacional, pois nos falta escala para sustentar os confrontos tarifários”, aconselhou Baggio. Sobre o Rio Grande do Sul, o representante da Fiergs afirmou que o estado deve ficar atento aos riscos e oportunidades, considerando que produtos como tabaco, armas de fogo, celulose, calçados e madeira podem ser afetados positiva ou negativamente conforme a direção da política comercial dos Estados Unidos.
Reaproximação entre Estados Unidos e China
Baggio comentou também a suspensão temporária das tarifas entre Estados Unidos e China por 90 dias. “A retomada de diálogo entre EUA e China representa um passo positivo para o comércio mundial, diminuindo as tensões econômicas. De maneira geral, é algo positivo para o Brasil, especialmente se a China conseguir manter seu fluxo de exportação para os EUA e não redirecionar seus produtos para outros destinos exportadores”, pontuou o economista.
Ainda segundo Baggio, esse movimento reduz a chance de o Brasil ampliar exportações para a China, mas pode viabilizar oportunidades com a realocação das cadeias produtivas. “A disputa tarifária paralisou quase US$ 600 bilhões em comércio bilateral, interrompendo as cadeias de suprimentos, gerando temores de estagflação e desencadeando algumas demissões”, afirmou o especialista, com base em dados do Valor Econômico.
Desafios fiscais e do mercado de trabalho
Na análise do economista, a incerteza fiscal no Brasil segue alta. “A incerteza fiscal de um déficit nominal atingiu máximas históricas. As contas públicas desajustadas acarretam uma inflação e juros em alta”, expôs Baggio. A expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2025 é de aproximadamente 2%.
Em relação ao desempenho estadual, o economista apontou que o PIB do Rio Grande do Sul em 2024 foi puxado pelos setores de agropecuária e serviços. Já a indústria gaúcha teve desempenho inferior ao da indústria nacional. “Os principais problemas da indústria de transformação do RS são relacionados à falta ou ao alto custo de ter acesso a trabalhador qualificado. Também as demissões a pedido e o total de desligamentos, na indústria do RS e na região próxima a São Leopoldo, têm aumentado, ampliando a falta de mão de obra”, afirmou Baggio.
O diretor executivo do Sindimetal RS, Valmir Pizzutti, ressaltou, na abertura do evento, a importância de discutir temas econômicos que atualizam os empresários com informações recentes e sinalizam os rumos do ambiente econômico até o final do ano.