Um gesto simples — doar apenas um pé de calçado — tem feito a diferença na vida de centenas de brasileiros com amputações ou deficiências físicas. Desde 2016, o Projeto Ímpar atua como ponte entre doadores e pessoas unípedes, promovendo inclusão social, sustentabilidade e empatia em todo o país.
A iniciativa partiu do Sindicato das Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui (Sinbi), em São Paulo, após um movimento espontâneo de solidariedade: a pedagoga Élida Rodrigues, ao visitar uma fábrica de calçados, decidiu recolher pés avulsos que seriam descartados e distribuí-los a pessoas com apenas um pé.
O impacto do gesto levou o Sinbi a estruturar o projeto de forma permanente e nacional. “É um projeto que une inclusão, inovação e sustentabilidade. Estamos reaproveitando calçados que antes eram descartados, ao mesmo tempo em que atendemos uma demanda invisível para a maioria da sociedade”, explica o presidente do Sinbi, Renato Ramires.
Plataforma conecta doadores e beneficiários
A operação do Projeto Ímpar é simples e eficaz. Pessoas físicas, indústrias e lojistas cadastram calçados únicos — aqueles que perderam o par ou são sobras de produção — na plataforma projetoimpar.com. Do outro lado, pessoas unípedes também se registram informando numeração, lado do pé (direito ou esquerdo) e informações pessoais.
Quando há compatibilidade entre os cadastros, o sistema faz a intermediação. O envio é realizado via Correios, com frete pago por parceiros institucionais como o Sicredi Alta Noroeste.
O projeto já distribuiu milhares de pares incompletos que, nas mãos certas, se tornam ferramentas de autonomia e autoestima. “Não é apenas um calçado. É mobilidade, é inclusão. É saber que alguém pensou em mim”, relata uma beneficiária do Maranhão em vídeo divulgado pela organização.
Inclusão além da deficiência
Embora as estatísticas sobre pessoas unípedes no Brasil ainda sejam escassas, o número de amputações cresce a cada ano devido a acidentes, diabetes e complicações vasculares. Para muitos desses brasileiros, encontrar um par de sapatos inutiliza 50% do produto — uma realidade economicamente inviável e psicologicamente frustrante.
O Projeto Ímpar oferece uma resposta direta a esse problema, respeitando a individualidade de cada beneficiário. Além disso, combate o desperdício, reaproveitando sobras industriais ou peças danificadas que seriam descartadas. “É uma cadeia do bem. A indústria contribui, o consumidor final participa e a sociedade toda ganha”, expõe Ramires. Segundo ele, o principal desafio hoje é ampliar a divulgação para que mais unípedes se cadastrem na plataforma. “Temos centenas de calçados disponíveis aguardando destino”, conclui o presidente.