Uma pesquisa de opinião, que ouviu professores da rede pública do estado do Rio Grande do Sul, revela que 37% dos docentes têm como principal desafio o desinteresse do estudante na rotina escolar. O levantamento foi encomendado ao Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) em parceria entre o Itaú Social, Todos Pela Educação, Instituto Península e Profissão Docente e ouviu 6.775 professores de escolas de ensino regular da rede pública (municipal e estadual) de todo o Brasil.
O segundo maior desafio em sala de aula, na visão dos professores, é a defasagem nas aprendizagens dos estudantes (30%), o que pode ter sido agravada pela pandemia de Covid-19. A indisciplina dos alunos é o terceiro elemento mais mencionado por professores gaúchos, com 14% dos apontamentos.
Como resposta a essas questões, ainda apontaram quais seriam as prioridades que as secretarias de Educação devem adotar nos próximos anos, sendo as cinco primeiras: o aumento do salário dos professores (32%); a oferta de apoio psicológico a professores e estudantes (19%); a promoção de programas de reforço e recuperação (17%); a promoção do envolvimento das famílias na vida escolar dos filhos (10%); e a melhoria da infraestrutura escolar (8%).
“A implementação de programas de reforço e recomposição das aprendizagens é uma prioridade para enfrentarmos o cenário de aprofundamento das desigualdades enfatizado pelos professores. São necessárias ações estruturadas nas distintas instâncias da gestão educacional, desde as secretarias, gestão das escolas até novas práticas pedagógicas na sala de aula para dar conta dos desafios”, afirma a superintendente do Itaú Social, Patricia Mota Guedes.
A superintendente reforça que “também é importante fortalecer o diálogo e a articulação entre o governo federal e estados e municípios para avançar com a oferta de ensino integral e a Busca Ativa para alcançar, especialmente, os estudantes mais prejudicados com o fechamento das escolas em razão da pandemia de Covid-19”. As entrevistas para o estudo foram realizadas entre julho e dezembro de 2022 e permitem compreender a percepção dos docentes brasileiros sobre diferentes questões da Educação Básica.
Trajetória profissional
O levantamento de opinião revelou que 11% concordam totalmente que os atuais cursos de graduação de Pedagogia e licenciaturas estão preparando bem os docentes para o início da profissão, sendo que, na média nacional, o percentual de docentes que têm essa afirmação é de 19%.
Os cursos presenciais formam docentes mais preparados de acordo com 83% dos entrevistados. Apesar dessa visão, seis a cada 10 professores (61%) graduados no Estado em 2020 estudaram à distância. Além disso, 56% afirmam não terem recebido orientação específica em seu primeiro ano de docência, quando estudos demonstram que a curva de aprendizagem é muito mais alta nos cinco primeiros anos de prática.
Percepções
Dentre os entrevistados, 96% acreditam que a figura do professor não é valorizada tanto quanto médicos, engenheiros e advogados no Brasil. Ou seja, apenas 4% dos entrevistados percebem (2% totalmente e 2% em parte) a valorização do educadores como sendo tão valorizada quanto outras profissões no país. A grande maioria dos docentes (91%), sinalizam que gostariam de participar mais do desenho de políticas e programas educacionais de sua rede de ensino.
Apesar da baixa valorização e dos desafios da carreira, 8 em cada 10 entrevistados concordam que, se pudesse decidir novamente, ainda escolheria ser professor. Além disso, 86% afirmam totalmente que a maior satisfação na profissão é quando percebem que os alunos estão aprendendo.
Sobre o Itaú Social
O Itaú Social desenvolve, implementa e compartilha soluções para contribuir com a melhoria da educação pública brasileira e para a redução das desigualdades educacionais. Sua atuação está pautada na formação de profissionais da educação e na realização de pesquisas e avaliações.
Sobre a pesquisa
Como parte da iniciativa Educação Já – agenda sistêmica que apresenta diagnósticos e propostas para o enfrentamento dos principais desafios da Educação brasileira – o Todos Pela Educação tem realizado um amplo processo de escuta com atores da comunidade escolar. Em 2022, outras pesquisas captaram as percepções de alunos e diretores de escolas públicas de todo o país. O intervalo de confiança da pesquisa com professores encomendada ao Ipec é de 95% e a margem de erro é de 1 ponto percentual para mais ou para menos sobre os resultados analisados considerando o total da amostra.