A Associação em Defesa dos Direitos dos Investidores da Unick Forex, ADDI-Unick, observa com cautela a decisão da Justiça Federal do Rio de Grande do Sul em soltar os sócios da Unick Forex, presos na Operação Lamanai, da Polícia Federal, em outubro passado. A decisão atendeu ao pedido da defesa do presidente e dos diretores da empresa.
O Advogado da Associação, Demetrius Teixeira, destaca que é preciso observar as atividades dos detentos, não se discutindo a questão de saúde pública. “Na decisão fica claro que o pedido de prisão preventiva estava bem fundamentada dada a natureza dos crimes supostamente cometidos, como defendemos que foram cometidos. Com a soltura dos acusados é preciso observar o comportamento no sentido de evitar qualquer tentativa de iludir as vítimas de que a empresa pode voltar ou que possui condições de quitar as dívidas”, frisa o advogado. A ADDI-Unick foi criada com o objetivo de ingressar na ação criminal como assistente de acusação do Ministério Público Federal (MPF).
Vitimas relatam sofrimento dobrado com a Pandemia
“A pandemia de Coronavírus impacta a economia brasileira com a redução da atividade produtiva como um todo. Para milhares de pessoas em todo o país a preocupação com as finanças daqui para frente é enorme, mas as vítimas da empresa Unick Forex precisam lidar com o sofrimento psicológico e econômico, pois o dinheiro que investiram poderia servir de poupança neste momento para as despesas mais urgentes. Estima-se que mais de 1 milhão de pessoas foram prejudicadas em todo País”, relata a assessoria da entidade.
Moradora de Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre, Letícia Ferreira trabalha atualmente como motorista de aplicativo e perdeu mais de R$ 55 mil na Unick Forex. Com a pandemia do coronavírus sua atividade profissional diminuiu drasticamente. “Vendi uma casa que tinha após a separação e usei uma parte para investir na Unick Forex. Fiz um plano para mim e outro para minha filha. No primeiro mês já não recebemos e passamos a ser enroladas pelos sócios da empresa. A outra parte do dinheiro da venda da casa foi consumido com as despesas do cotidiano e o investimento que a Unick nos roubou está fazendo muita falta”, conta Letícia.
A motorista de aplicativo detalha ainda que o investimento perdido está fazendo falta para aquisição de medicamentos para problemas de saúde que trata há bastante tempo. “Tomo remédios de forma contínua, que não estão disponíveis na rede pública, preciso comprar. Tenho fibromialgia e neuropatia. Os medicamentos são caros pois as doenças não são reconhecidas no SUS. O dinheiro que perdemos na Unick está fazendo muita falta.”
Apesar de fazer parte do grupo de risco entre os pacientes da Covid-19, Letícia Ferreira segue trabalhando como motorista de aplicativo. Mesmo com o fraco movimento causado pela pandemia que diminuiu drasticamente o número de clientes. “Tenho carro e mesmo sendo pouco é a minha única fointe de renda atual. Pelos meus problemas de saúde sei que estou me arriscando ao exercer a atividade, por isso o dinheiro da Unick tem feito falta demais. A demanda está muito fraca de chamada dos clientes. Demora uma hora para vir e, na maioria das vezes, trata-se de uma corrida curta. Antes trabalhava oito horas direto e chegava faturar R$ 300,00 no dia. Agora fica o dia inteiro na rua e não consegue chegar a R$ 100,00.”
Para o morador de Novo Hamburgo, Alcindo Herpich, 50 anos, o dinheiro investido na Unick, cerca de R$ 6.500,00 está fazendo muita falta diante do surto de coronavírus, que provocou a redução da atividade econômica como um todo. “O Coronavírus me atingiu diretamente, pois os trabalhos que fazia em restaurantes foram cortados. Me comunicaram que até segunda ordem não vai ter trabalho. Fui demitido de uma empresa de cosméticos que tinha começado em fevereiro devido a redução no volume da produção. Não sei como vou pagar as contas no próximo mês, mas neste momento estou mais preocupado com a minha saúde e vou ficar em casa”, disse.
Outra consequência da pandemia para quem tem um negócio é a necessidade de fechá-lo para cumprir o distanciamento social. Leonice Eich, de Ivoti, conta que o marido precisou encerrar as atividades da oficina mecânica. “Certamente as contas não vão parar de chegar. Temos dois filhos que precisam de nossa ajuda financeira. Um deles estava de mudança marcada para Brasília onde tentar conseguir um emprego, mas precisou cancelar a viagem”, revela.
Além da pandemia, Leonice precisa lidar com o peso de ter perdido R$ 25 mil ao investir na Unick Forex no ano de 2019. Os sócios estão presos e o dinheiro fazendo muita falta. “Acreditei cegamente pois pessoas próximas também colocaram recursos financeiros. Agora o dinheiro está próximo do fim. Eram todas as minhas economias que agora poderiam ser usadas para nos manter por algum tempo”, frisa ela.
Associação busca condenação criminal dos sócios da Unick
Para o advogado da Associação, Demetrius Teixeira, a pandemia de Covid-19 reforça a necessidade de condenação criminal dos sócios da Unick. “Em condições normais a prática do crime de pirâmide financeira é repugnante, pois ilude as pessoas com promessas de ganhos irreais, fazendo com que gastem recursos de poupanças e mesmo os próprios bens. A pandemia da Covid-19 torna o delito praticado pelos sócios da Unick mais grave assim como a necessidade da condenação criminal de todos, pois os investidores poderiam usar o dinheiro aplicado agora para necessidades pessoais e muitos estão passando sérias dificuldades.”