Cintielle Paiva Almin sempre sonhou em transformar a realidade da sua família por meio da educação. Como não possuía condições financeiras de cursar uma universidade, conquistou o diploma em Serviço Social graças ao acesso ao crédito educativo. “Eu via minha mãe passando muita necessidade e percebi que a educação era o caminho”, explicou, refletindo sobre o impulso que a motivou a seguir seus estudos.
Aos 28 anos, a assistente social que reside em Viamão se tornou uma inspiração para sua família, pois foi a primeira a obter um diploma, o que motivou outros familiares a seguirem o mesmo caminho. Ela se formou em janeiro deste ano na Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS). Seu pai, Alexsandro Centeno, de 52 anos, por exemplo, também ingressou na faculdade após vê-la se formar. “Quando eu falei que estava inscrita na universidade, meu pai ficou tão feliz que saiu correndo e comprou um caderno como se fosse entrar na primeira série”, relembrou.
Agora, mais confiante e madura, Cintielle olha para o futuro com novos objetivos. Ela se imagina empreendendo, aproveitando sua criatividade para transformar vidas. “Hoje eu entendo que estou saindo uma outra pessoa”, afirmou, destacando como a universidade foi fundamental para seu crescimento pessoal e profissional.
Histórias como a de Cintielle revelam como o acesso ao ensino superior pode mudar vidas e abrir caminhos para novas gerações. Depoimentos como o dela fazem parte do projeto Multiplicadores da Transformação. A iniciativa, realizada pela Fundacred, divulga depoimentos de beneficiários que conseguiram transformar a sua realidade por meio do crédito educativo da instituição.
O sonho de se formar em uma faculdade ainda é um desejo muito forte entre os jovens brasileiros, mas distante da realidade da maioria. A evasão nas universidades segue alta e a falta de incentivo financeiro para estudantes de baixa renda se tornou um dos principais obstáculos para a formação superior no país. A constatação é da 15ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil, divulgado recentemente pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp). O estudo analisou informações trazidas pelo Censo do Ensino Superior entre 2013 e 2023.
De acordo com a pesquisa, mais da metade dos alunos de cursos presenciais desiste antes da formatura. Na Educação à Distância (EaD), o índice é ainda maior: 63,7% abandonam o curso no meio do caminho. Segundo especialistas, a falta de apoio financeiro está entre os principais motivos para essa alta taxa de desistência. Com menos incentivos, muitos estudantes não conseguem pagar a mensalidade, resultando em um número alto de desistências e menor inclusão educacional.
Rumo ao sonho de se tornar médico
Por duas décadas, Roberto Josué Lopes da Luz vem cuidando dos pacientes como técnico de enfermagem, mas sempre sonhou em estudar Medicina, após perceber que poderia oferecer um cuidado mais completo ao paciente por conhecer a rotina dos médicos.
No entanto, os custos da faculdade são um grande desafio. Roberto, de 39 anos, tem dois empregos para pagar parte das mensalidades na Universidade Feevale. Morador de Novo Hamburgo, ele trabalha no SAMU de Sapiranga e no Ambulatório 12 de Maio, em Santa Maria do Herval. O crédito educacional da Fundacred surgiu como uma solução.
Com a experiência adquirida nos anos de enfermagem, Roberto percebeu várias transformações pessoais. “Consigo unir minha experiência de técnico de enfermagem com o que estou vivendo agora, trazendo mais cuidado e empatia pelos pacientes”, refletindo sobre o impacto de sua escolha. E ele já tem outros planos. “Estou pensando em me especializar na área de urgência e emergência”, afirmou, embora também considere outras áreas como pediatria e ortopedia.
Ao olhar para sua trajetória, ele se sente realizado, mas seus objetivos não param por aí. “Meu sonho agora é me formar em dois anos e inspirar outras pessoas que estão em busca dos seus objetivos”, disse, enfatizando que, mesmo começando seus estudos após os 30 anos, acredita que nunca é tarde para seguir seus sonhos. “Nunca me limitei pela idade. Com 41 anos, estarei formado, e tenho muito tempo para trabalhar”, concluiu, oferecendo seu exemplo como inspiração para quem acredita que é tarde demais para estudar ou mudar de vida.