A análise da médica mastologista do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, Camile Stumpf, aponta que, apesar das garantias legais, pacientes com câncer de mama ainda enfrentam atrasos no início do tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). O alerta, realizado durante este mês especial de Outubro Rosa, destaca que a lentidão no acesso à terapia compromete o prognóstico e reforça a urgência de medidas efetivas em todo o país.
O câncer de mama é o tipo de neoplasia mais incidente e letal entre as mulheres brasileiras. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicam que o Brasil deve registrar mais de 70 mil novos casos apenas em 2025. A Lei nº 12.732/2012 determina que o tratamento seja iniciado em até 60 dias após o diagnóstico, mas, segundo Camile, essa garantia muitas vezes não se concretiza. “A paciente enfrenta não apenas a doença, mas um sistema de saúde que, muitas vezes, falha em acolher e garantir o que está previsto na legislação”, afirma a médica.
Entre os principais problemas estão falhas na regulação, falta de vagas em centros especializados e desinformação. “Isso compromete diretamente o prognóstico. O início precoce do tratamento aumenta significativamente as chances de cura, especialmente nos estágios iniciais da doença”, destaca Camile.
Desigualdade no acesso à reconstrução mamária
Outro ponto abordado pela médica é o direito à reconstrução mamária, garantido por lei às mulheres que passam por mastectomia. Segundo Camile, o procedimento, que pode ser realizado no mesmo ato cirúrgico ou em momento posterior, ainda encontra barreiras em diversas regiões. “Essa cirurgia não é apenas estética. Ela impacta profundamente a autoestima, a saúde mental e a forma como a mulher se reconstrói emocionalmente após o tratamento. Apesar disso, a oferta do procedimento ainda é irregular em diversas regiões do país”, explica a mastologista.
Casos crescem entre mulheres jovens
Embora a doença seja mais comum em mulheres com mais de 50 anos, há aumento expressivo entre pacientes mais jovens. Camile destaca que o rastreamento precisa considerar fatores de risco individuais e histórico familiar. “Mulheres com histórico familiar ou fatores de risco devem conversar com seus médicos sobre quando iniciar a vigilância. A detecção precoce é crucial, independentemente da idade”, orienta a médica.
Atendimento integral e humanizado
Para a médica, o cuidado com o câncer de mama vai além dos exames e das cirurgias. Envolve acesso à informação, suporte psicológico e respeito às decisões da paciente sobre seu tratamento. “Esses direitos não são favores. São garantias legais e éticas. Precisamos de uma abordagem mais humanizada e menos burocrática, que respeite a mulher como sujeito ativo em sua jornada”, afirma Camile.
Outubro Rosa e a importância da continuidade das ações
A especialista ressalta que o Outubro Rosa é um movimento importante de conscientização, mas lembra que o enfrentamento ao câncer de mama deve ocorrer durante todo o ano. “O câncer de mama não espera. As ações de rastreamento, diagnóstico precoce, suporte emocional e cumprimento da lei devem ser prioridade o ano todo — nas políticas públicas, nas escolas, nos ambientes de trabalho e nas comunidades”, defende Camile.
Quem é Camile Stumpf
A médica Camile Stumpf (Cremers 31477) é mastologista e ginecologista, mestre e doutora pela UFRGS, com pesquisa voltada à cirurgia oncoplástica e reconstrução mamária com lipoenxertia. Integra o corpo clínico do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e é especialista em cirurgia plástica mamária. Em 2024, realizou fellowship na França, na Clinique Rhéna de Strasbourg, com o cirurgião Jean Marc Piat, referência mundial em reconstrução mamária.

